segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

"Entre a Fogueira e a Nobreza", Isabel Braga Abecasis

Antes de mais, tenho de partilhar que estou a gostar de ler não-ficção de carácter histórico. Sabe sempre bem aprender algo novo sobre o Passado e se for sobre o nosso próprio país, tanto melhor. Foi o caso com a leitura de "Entre a Fogueira e a Nobreza", de que gostei tanto.

Neste livro a autora aborda a vida de uma família portuguesa, entre os séc. XVI e XIX, desde a sua ascensão no mundo comercial e a importância junto da Coroa, e, ao mesmo tempo, revela episódios e pormenores sobre a nossa História.
Assim, conhecemos alguns dos membros mais relevantes na pesquisa que foi levada a cabo, como António Gomes de Elvas, um cristão-novo com um pulso forte na manutenção dos negócios da família, que se prendiam com a comercialização de produtos ultramarinos e empréstimos - inclusive, a altas personalidades, como os monarcas portugueses e espanhóis. Conhecemos um pouco mais sobre o meio-irmão que ele próprio libertou da escravatura, Manuel Gomes de Elvas, filho da relação com uma escrava, que também ascendeu no mundo dos negócios - inclusive, com a comercialização de escravos africanos. Já o filho de António Gomes de Elvas, Luís, pelo permanente apoio financeiro junto da monarquia espanhola, recebeu um título de nobreza, alterou o apelido para Gomes da Mata e comprou o ofício de correio-mor do reino. Ou seja, ficou responsável pelo circuito de correspondência e encomendas do Reino, das quais recebe ainda uma percentagem. Este ofício ficou na família e passou ainda pelas mãos de um mulher, a viúva Isabel Cafaro, já nos inícios do séc. XVIII, e terminou no séc. XIX, com Manuel José da Maternidade da Mata de Sousa Coutinho, que ao contrário dos antepassados, fez carreira militar e assumiu uma vida política activa, depois da revolução liberal.
Foi curioso conhecer o percurso desta família e dei por mim com vontade de descobrir  mais histórias destes género - das que se cruza com a nossa História. Não costumamos ouvir falar sobre os Bórgia ou os Médici? Ou os Távora? Porque não conhecer mais portugueses? Até porque, como referi anteriormente, é uma forma de aprender costumes de outras épocas.
Foi interessante perceber que António Gomes de Elvas já fazia seguros sobre as mercadorias que estavam a  ser transportadas da Índia para Portugal, por exemplo. Ou que, como descendentes de judeus, se conseguiram proteger não só pelas relações com altas personalidades, mas também pelas acções que tomavam como "bons católicos", como as doações de património à Igreja e a Ordens professantes. Foi também engraçado saber que um dos Gomes de Elvas foi casado com uma espia francesa, Anne Armande du Verger, que também era "a favorita" de D. Pedro II. E que as relações com as mulheres da família se alteravam ao longo do tempo.
O papel da mulher na História consegue ser controverso, bem o sabemos. Por um lado foi interessante, mas também chocante, perceber como houve diferentes tipos de tratamento na mesma família. Sinais dos tempos? 
Aliás, parte da ideia para este livro partiu de uma pesquisa sobre Francisca Coronel, uma freira que passou décadas a tentar anular os votos que tinha tomado obrigada pelo pai - e ameaçada de morte. Como é explicado, algumas raparigas desta família foram desde cedo destinadas à "vida religiosa". Acontece que Francisca Coronel, a filha do primeiro correio-mor da família, não tinha vocação e, no fundo, viveu com o que hoje se sabe ser uma depressão. Por outro lado, anos mais tarde, a família teve duas filhas solteiras, Maria Manuel e Joana Madalena de Castro, que, mesmo sem a perspectiva de um casamento, eram apreciadas pela pintura e pela poesia que praticavam, respectivamente...

O livro torna-se interessante também por se perceber os efeitos que os acontecimentos, hoje Históricos, tiveram sobre aquele grupo de pessoas - os problemas económicos com a campanha frustrada que levou ao desaparecimento de D. Sebastião, a peste, as mudanças de mentalidade, etc. - e, ao mesmo tempo, o seu próprio papel nesta corrente.
Foi uma leitura que espicaçou a minha curiosidade em muitos sentidos, principalmente pelos factos que são descritos - em 1632 no mosteiro de Santana de Coimbra as religiosas tinham um regulamento sobre como lidar com os amantes! -, e que aumentou o meu respeito por quem  investiga e resgata estas "partículas" de outras vivências para voltarem a ser conhecidas pelo público.

Sinopse

Já leram este livro? Qual é a vossa opinião?
Boas leituras!

Nota: Este exemplar foi-me cedido pela Guerra e Paz Editores para opinião, a quem mais uma vez agradeço esta oportunidade.

2 comentários:

  1. Olá Su,
    Deixaste-me muito curiosa com o livro!
    Acho bastante interessante ficarmos a conhecer mais uma família portuguesa.
    Beijinhos

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    1. Olá, Tita,
      Obrigada! Sim, é sempre bom. Ele vale a pena, consegue ensinar-nos :D

      beijinhos

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