quinta-feira, 1 de março de 2018

"Laços de Sangue", Pamela Freeman

Há livros que acabam no nosso coração de uma forma surpreendente. Este "Laços de Sangue" chegou à minha estante depois de uma feira do livro, há anos atrás. A maioria dos leitores conhece estes casos. Uma pessoa está a revirar os volumes disponíveis na bancada e depara-se com um que até lhe chama a atenção. O livro está a um preço acessível, mas sendo o primeiro de uma trilogia cuja continuação não foi publicada por cá prefere deixá-lo para trás. No entanto, acaba por regressar à feira e não consegue ignorar o dito livro e acaba por o levar consigo. Por uma ou duas vezes lhe pegou, já em casa, e voltou a guardá-lo na estante. Um dia decide dar-lhe a oportunidade e descobre que era mesmo daquela leitura que estava a precisar.

É que "Laços de Sangue" conseguiu ser uma lufada de ar fresco - literalmente. Nele conhecemos Bramble, uma jovem com o seu quê de selvagem que prefere a companhia dos animais e o dia-a-dia na natureza,  e que ainda tem o sangue antigo. Sendo neta de um Viajante, revolta-se contra a forma como o seu povo é espezinhado pelo povo de Acton, os invasores que há mil anos atrás conquistaram aquelas terras à força, massacrando e marginalizando os habitantes originais, que se vêm desapossados das suas propriedades e obrigados a uma vida vagueante pela Estrada. Quando Bramble mata um dos homens do Senhor da Guerra foge para se salvar e precipita uma cadeia de acontecimentos que mudam o seu próprio destino. 
Ash viveu como Viajante desde sempre, mas apesar de ter aprendido cada letra das canções que os pais interpretam ao longo da Estrada, não pode cantar. Sente que nunca pertenceu a lugar nenhum, até ser aceite como aprendiz de segurança de Doronit. O problema é que o preço é matar...
Para além destas personagens, ao longo do livro vamos encontrando Saker, um Vidente das Pedras em busca de vingança, e  vamos conhecendo a história de algumas pessoas com quem os protagonistas se cruzam. Estas últimas partes podem não adiantar de muito para o enredo, mas sem dúvida que o tornam mais rico e ajudam o leitor a ambientar-se com a cultura dos Onze Domínios.

Esta primeira parte da trilogia apresenta-nos ao universo dos Onze Domínios com toques típicos de fantasia, onde gente como Bramble e Ash, ainda é capaz de ouvir os deuses ou ver os fantasmas, mas que é retratado de uma forma tão natural que senti que lia algo mais semelhante ao realismo mágico - se é que tal se pode dizer de um universo que não é nosso, e que de "real" tem apenas a mesma velha "humanidade", com a suas virtudes e defeitos. Fiquei assim com um fraquinho por este livro, onde a atmosfera me lembrou a trilogia "Os Pilares do Mundo", de Anne Bishop, e as descrições vívidas das cidades e da natureza  nos fazem tomar a Estrada com os protagonistas, enquanto convivemos com a sua dor e os seus anseios. É que o tema que permeia o livro não é novo, nem há-de envelhecer: a destruição de uma cultura por um invasor. Sendo a autora australiana não sei até que ponto tal é coincidência.
Só tive pena que mais uma vez é contraposto o povo moreno oprimido ao conquistador alto e loiro, apesar de lógico e de facilmente associável à "realidade". Para além disso, outro aspecto um bocadinho negativo foi o facto de "certos" fantasmas - digamos assim para evitar o "spoiler" - poderem decair num elemento muito fantasioso. No entanto, para comentar melhor tal aspecto, teria que ler os seguintes livros, e se gostasse, o mais certo era perdoar tal coisa. 
No geral, gostei mesmo muito deste livro. Providenciou-me um excelente escape da realidade, mas com alma, e sem dúvida que gostava de conhecer o destino final daquelas personagens. Vou ficar com saudades, e estou tentada a adquirir a versão original...
E vocês, já leram este livro? Qual é a vossa opinião?
Boas leituras!

2 comentários:

  1. Olá, Su!
    Adorei a tua opinião. Está fabulosa! Só tenho alguma reticência por ser um livro de fantasia, e esse não ser um género que me atrai. Mas se não fosse por isso, tentaria encontrar o livro rapidamente, porque até a mim, que sou avessa à fantasia, tu me convenceste com o teu belo texto!
    Beijinhos e leituras muito saborosas!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá, Ana,
      Ohh, obrigada :D às vezes parece-me tão difícil escrever sobre as leituras que me tocam que fico com receio que depois vocês não percebam como elas me apaixonaram (inseguranças... :P)
      beijnhos e boas leituras

      Eliminar